Esmeraldo de Situ Orbis


A raridade sui generis do "Esmeraldo de Situ Orbis", o famoso roteiro de Duarte Pacheco Pereira, dever-se-á, na proposta da tese de Domingues (1), não à informação privilegiada que esconde, o que tem sido avançado até aqui, antes sim por se abrigar numa mundividência que os factos coetâneos tornaram obsoleta. Será assim com base neste ponto que o roteiro terá perdido a sua credibilidade e pertinência. As navegações em curso, assinaladamente a identificação do continente americano e sua circumnavegação, demonstraram a inexactidão das palavras do Esmeraldo.

Não foi porém a raridade a trazer reconhecimento ao Esmeraldo. Domingues vai ao encontro da questão. A fama deve-se a uma leitura desvirtuada do texto, onde se pretende fazer uma leitura de descoberta do Brasil em 1498.
Para Domingues é sim necessário inscrever as palavras de Duarte Pacheco Pereira no tempo e perceber o seu pensamento e a sua mundividência. Segundo o investigador, as palavras do Esmeraldo revelam como a Terra é pensada e discutida antes de 1500 num largo espectro da intelectualidade tardomedieva.
A descrição do cosmógrafo assenta numa das crenças fundamentais desde a Antiguidade, a de que a ecúmena é circundada por um oceano periférico, e que para lá deste se situa uma terra ancestral e inabitada.
Perante este dogma, para Duarte Pacheco Pereira não haveria terra a descobrir para lá do mar Oceano. O que terá avistado, em 1498, é tão só o lugar ancestral, inabitado, e por certo inabitável, que se sabia existir nos confins do oceano periférico.

(1) Domingues,F. (2012) A Travessia do Mar Oceano - A Viagem ao Brasil de Duarte Pacheco Pereira em 1498. Tribuna da História.

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