Cartografia medieval
Fragmento de Mapa-mundo do Apocalipse de Lorvão (1189), cópia ilustrada (de Egeas do Mosteiro de São Mamede de Lorvão) do "Commentarium in Apocalypsin" (776) de Beato de Liébana (701?-798).
O descortinar em Quinhentos de uma realidade nova do mundo, de uma ecúmena não mais tripartida, tal como a cartografia alto medieva difundia, não deixou incólume o afeiçoamento medievo europeu à teologia cristã. O crepúsculo da Idade Média é notoriamente matizado por uma reforma da Cristandade Ocidental.
Neste contexto, também o surgimento dos mecanismos do capitalismo e do colonialismo coincidem com a emergência de uma metafísica antropocêntrica divorciada de uma comunhão com a figura de Cristo. É peculiar o processo paralelo de quase metamorfose da cartografia, a partir de Quatrocentos, com o surgimento das cartas-portulano. A representação do mundo escapa então já à obediência teológica, relegando essa para aspectos simbólicos, onde se alude tão só à eventual existência de lugares recônditos, particularmente de ilhas "perdidas". O misticismo religioso deixa de seguir uma ortodoxia da representação do espaço para se concentrar cada vez mais no referente simbólico errático, que aos poucos se vai diluindo numa genealogia dos aspectos linguísticos.