Tânger e Arguim: um problema, duas soluções

Podemos conjecturar que o avançar das viagens para sul, e sobretudo a solução de Arguim, terá também tido a ver com a política fracassada de Tânger. Para explicar esta sugestão, enquadremos sucintamente o tema.

Em causa está Marrocos e as seculares relações de Marrocos com a Península. Ainda que indirectamente a braços com a ocupação muçulmana, Portugal entende Marrocos, de facto, à luz daquela circunstância, e parte para o Atlântico focado na questão marroquina e num tema particular do ocupante magrebino: as rotas e caravanas do ouro africano.
Porém, antes da partida para Marrocos, Portugal tem um conhecimento fragmentado da realidade magrebina e africana. Duas décadas depois está claro que para se chegar ao ouro africano não basta ter em mãos os entrepostos de acesso das rotas do ouro ao Mediterrâneo. Duas estratégias se colocam. Dominar as estruturas políticas do reino de Fez, ou dominar os mecanismos dos comércios africanos e da famosa rota do ouro do "Sudão". Tânger será tema da primeira. Arguim da segunda.

Em Jaime Cortesão, por exemplo, destaco o seguinte.

"É durante os anos de 1448 a 1456 que o Infante dá os primeiros e eficazes passos para suprir o malogro de Ceuta, fundando a feitoria de Arguim, como entreposto do comércio típico do Sudão e da Guiné, cujo sistemas de trocas - os escravos e o ouro por trigo, tecidos e cavalos - desviou de Marrocos.
É também durante esse período que ele estende aos portos da Guné, propriamente ditos, o tráfico iniciado em Arguim; e que na sua mente se desenvolve o plano mais vasto de que aquela feitoria foi apenas a semente: desviar do Cairo e de Veneza, para Lisboa, o entreposto das especiarias do Oriente, cujo comércio era monopolizado nas fontes de origem pelos árabes."


Cortesão, J. (1990). Os Descobrimentos Portugueses. Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa

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