As Primeiras Navegações (e os levantamentos cartográficos)

Tratam-se de 3, possivelmente 4, as viagens documentadas na década de 30, a que acrescem na década seguinte (até antes da data da carta de privilégio ao infante), outras tantas. Teremos alguma margem de manobra para avaliar, pelas condições necessárias à concretização dos levantamentos solicitados pelo infante D. Henrique, onde, quando e como se executou a Carta de marear? Vamos procurar saber.

Antes de 1434, dezena e meia de viagens bem contadas realizam-se na tentativa de descer além do Bojador, inclusive com Gil Eanes, comprovadamente no ano anterior. Oliveira Marques refere que nesses anos, por exemplo, citando Zurara e Valentim Fernandes, um tal Álvaro Fernandes Palenço e um outro Álvaro do Cadaval navegam ante o cabo Bojador (1).
Em 1434 o escudeiro do infante, Gil Eanes, a residir em Lagos, vence, ao que tudo indica, o cabo Bojador. Eventualmente estamos ainda a falar do cabo Juby ou Buyeder (também Bugeder).
No ano seguinte Gil Eanes retorna fazendo acompanhar-se de um copeiro do infante, Afonso Gonçalves Baldaia. Em barca e barinel descem 50 léguas mais. Angra dos Ruivos assinala o ponto atingido.
Um ano tornado e Afonso Gonçalves Baldaia está de regresso alcançando sítios que identifica como o Rio do Ouro e a Pedra da Galé.
Aparentemente em 1437 Garcia Homem visita os mesmos Rio do Ouro e Pedra da Galé, sem mais proveitos adiante, e dali tão só colhendo óleo e peles de foca.
Posteriormente avultam-se as dificuldades pelo que até aos primeiros anos da década seguinte cessam virtualmente as navegações na costa africana a sul do Bojador.
A década de 40 vê a primeira expedição abalar com Antão Gonçalves, guarda-roupa do infante, alcançando o já reconhecido sítio da Pedra da Galé.
No mesmo ano seguem Antão Gonçalves e Nuno Tristão. Na segunda expedição da década, Tristão avista o Cabo Branco. Ao óleo e peles de foca acrescem mouros cativos.
Em 1442 regressa Antão Gonçalves ao Rio do Ouro e Pedra da Galé. Pela primeira vez negoceia-se ouro. De novo 42 e vemos seguirem Gonçalo Afonso de Sintra e Dinis Dias que entram no Golfo de Arguim.

Perante estes dados avançam-se as seguintes hipóteses:
a) Em todas as expedições são feitos levantamentos cartográficos sumários.
b) A segunda viagem de Gil Eanes reúne teoricamente a maior logística, das viagens da década de 30, pelo que pode ser a mais bem apetrechada em todas as vertentes, nomeadamente para a feitura de levantamentos cartográficos.
c) A terceira viagem percorre o maior trajecto até então. O tempo de viagem não será uma preocupação. O conhecimento é o objectivo maior.
d) A quarta viagem limita-se a reconhecer a última derrota, com o que isso tem de significativo, sem outros objectivos aparentes.
e) A década de 40 é a que traz os primeiros mouros cativos, citados juntamente com a feitura da carta de marear.
f) A feitura da carta deveu-se à passagem do Cabo Bojador e à premente necessidade de registos náuticos.

(1) Serrão, J. e Oliveira Marques, A. H. (1998). Nova História da Expansão Portuguesa, vol. II. Editorial Estampa, Lisboa.

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