Astrolábio


Astrolábio. Estatuária da fachada principal (c.1225) da Catedral de Notre-Dame de Paris.

Em Paris, ao tempo da obra da Catedral, encontramos Guillaume d'Auvergne (1190-1249), clérigo da Notre-Dame de Paris e depois bispo da mesma cidade. Guillaume inscreve-se num circuito intelectual precursor de uma aproximação dos Clássicos à Doutrina Cristã, tema que adquirira uma visibilidade nova a partir da chegada de Gerbert d'Aurillac (c.946-1003) ao lugar de Sumo Pontífice. Gerbert d'Aurillac foi figura de proa, entre outros aspectos, pela chancela que imprime à promoção dos estudos Clássicos e árabes nos meios literatos medievos da Cristandade, e em igual medida foi particularmente responsável por um patrocínio na recuperação de instrumentos como o ábaco, o quadrivium ou a esfera armilar. Gerbert passara pela Península Ibérica onde estudara em jovem.

A Península é no capítulo da Cosmologia um dos vértices fundamentais do pensamento e conhecimento medievo. Toda a Cosmologia alto-medieva é neste ponto herdeira das Etymologiae de Isidoro de Sevilha (c.560-636), da Historiae de Orosius de Braga (séc. IV) ou da hermenêutica do Apocalipse do Beato de Liébana (?-798).

Desenvolvendo estudos muito mais detalhados e específicos, Abraham Ibn Ezra (1089-c.1167), no contexto peninsular, traduz do astrólogo persa Mashallah Ibn Athari (c.740-815) os tratados deste sobre o astrolábio.

O avô de D.Dinis, Afonso X de Castela, o Sábio, (1221-1284), socorre-se de fontes como Abraham Ibn Ezra ou mais genuinamente de um al-Zarqali (?-1100) para a feitura erudita dos seus Livros do Saber de Astronomia, onde surgem novamente os astrolábios de medição astronómica. Al-Zarqali, natural de Toledo, é ele mesmo astrónomo e construtor de instrumentos astronómicos cujo funcionamento descreve em vários tratados. Atento observador dos movimentos e ciclos solares e lunares, al-Zarqali entrega-se assim também à construção de minuciosas tabelas astronómicas, mais tarde copiadas por Afonso X.

Anterior, o Tetrabiblos ptolomaico (séc. II), texto filosófico sobre Astrologia que inclui descrições de instrumentos de medição astronómica como o quadrante ou o dioptra, sobrevive, depois de traduzido do grego, circulando sobretudo nos meios árabes, regressando muito mais tarde ao Ocidente traduzido para o latim, do árabe, ao séc. XII.

Por estes meios eruditos e outros do mesmo calibre, mas igualmente pela circulação material e imaterial dos instrumentos e saberes a eles associados, instrumentos de medição astronómica terão desde a Antiguidade comprovadamente existido e com certeza circulado. A adaptação do Astrolábio ao meio náutico é porventura uma circunstância ainda pouco calibrada.

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