Jafudà Cresques
Durante grande parte do século passado aceitou-se que a figura de Jacome, primeiramente referida por Duarte Pacheco Pereira no Esmeraldo, poderia ser Jafudà Cresques (1360-1410), filho de Cresques Abraham (1325-1387), ambos reconhecidos cartógrafos maiorquinos judeus. Jafudà, que depois de uma forçada conversão ao cristianismo adopta o nome de Jaume Ribes (1391), ter-se-á instalado, a convite do Infante D.Henrique, em Portugal, terra onde ficaria conhecido como Jacome de Maiorca e onde teria mesmo depois dado início à famosa "Escola de Sagres" (Llabrés; Reparaz; Pastor e Camarero, 1959; e Vernet, 1975).
Porém, comprovadamente, sabe-se hoje que as coisas não terão sido inteiramente assim. Sobretudo sabe-se que Jafudà Cresques terá falecido cerca 1410 (Riera i Sans, 2009). Se chegou a estar em Portugal, não foi seguramente a mando do Infante D.Henrique e esta nuance pode ter sido pouco notada, porque Jafudà, como vamos perceber, pode mesmo ter estado em Portugal. Em outras circunstâncias, mesmo bem mais gravosas, é também sabido que o Infante se arrogou senhor de iniciativas, por certo não justamente. Que elas sejam sobretudo transmitidas por terceiros, tem ainda o seu quê de curioso.
Uma vez que Jafudà (Jaume Ribes), o único nome maiorquino que se enquadraria neste episódio, terá falecido até 1410, ou não será Jafudà o cartógrafo apontado em Portugal como Jacome, e aí temos um novo tipo de problema, até porque não se conhece nenhum outro grande cartógrafo coêvo que se encaixe naquelas características, ou quem chamou o cartógrafo a Portugal foi, provavelmente, D.João I, e isso Duarte Pacheco Pereira não sabe ou a informação que transmite estaria já viciada. Uma terceira hipótese passaria por um erro mais grosseiro de Duarte Pacheco Pereira, que depois João de Barros replicaria, o que todavia soa menos credível.
Em jeito de conclusão, podemos discutivelmente aventar que Jafudà Cresques possa ter passado por Portugal até termo da primeira década do século XV, naturalmente porém não a mando do Infante D.Henrique. Sobre esta condição é importante notar um documento dos vários exumados por Jaume Riera i Sans alusivos a Jafudà Cresques. Datado de 24 de Março de 1394, este documento assinado por João I de Aragão concede salvo-conduto de viagem e residência a Jaume Ribes para qualquer lugar, dentro ou fora do reino, por um período de 2 anos. Tem o valor que tem, mas não se pode abandonar sem uma despistagem criteriosa.
Alfredo Pinheiro Marques (em "A Cartografia dos Descobrimentos") deduzira da mesma forma, mas concluindo em sentido inverso. "Assim, ou o "Mestre Jaime de Maiorca" que esteve em Portugal era outro cartógrafo maiorquino que não Jaime Ribes, ou este teria estado no país antes da "época do Infante". A primeira hipótese será certamente mais provável." (Marques, 1994). Estou em crer que assim o faz por entender a vinda de Jacome num contexto mais prosaico, exclusivamente associado à cartografia, o que em nosso entender se desarticula de uma essência fundamentalmente política, de que aquele evento poderá ser afinal a face mais visível.
A questão que se pode e talvez deva colocar, é pois essa a de saber: se vem, porque vem Jafudà a Portugal cerca 1394?
Porém, comprovadamente, sabe-se hoje que as coisas não terão sido inteiramente assim. Sobretudo sabe-se que Jafudà Cresques terá falecido cerca 1410 (Riera i Sans, 2009). Se chegou a estar em Portugal, não foi seguramente a mando do Infante D.Henrique e esta nuance pode ter sido pouco notada, porque Jafudà, como vamos perceber, pode mesmo ter estado em Portugal. Em outras circunstâncias, mesmo bem mais gravosas, é também sabido que o Infante se arrogou senhor de iniciativas, por certo não justamente. Que elas sejam sobretudo transmitidas por terceiros, tem ainda o seu quê de curioso.
Uma vez que Jafudà (Jaume Ribes), o único nome maiorquino que se enquadraria neste episódio, terá falecido até 1410, ou não será Jafudà o cartógrafo apontado em Portugal como Jacome, e aí temos um novo tipo de problema, até porque não se conhece nenhum outro grande cartógrafo coêvo que se encaixe naquelas características, ou quem chamou o cartógrafo a Portugal foi, provavelmente, D.João I, e isso Duarte Pacheco Pereira não sabe ou a informação que transmite estaria já viciada. Uma terceira hipótese passaria por um erro mais grosseiro de Duarte Pacheco Pereira, que depois João de Barros replicaria, o que todavia soa menos credível.
Em jeito de conclusão, podemos discutivelmente aventar que Jafudà Cresques possa ter passado por Portugal até termo da primeira década do século XV, naturalmente porém não a mando do Infante D.Henrique. Sobre esta condição é importante notar um documento dos vários exumados por Jaume Riera i Sans alusivos a Jafudà Cresques. Datado de 24 de Março de 1394, este documento assinado por João I de Aragão concede salvo-conduto de viagem e residência a Jaume Ribes para qualquer lugar, dentro ou fora do reino, por um período de 2 anos. Tem o valor que tem, mas não se pode abandonar sem uma despistagem criteriosa.
Alfredo Pinheiro Marques (em "A Cartografia dos Descobrimentos") deduzira da mesma forma, mas concluindo em sentido inverso. "Assim, ou o "Mestre Jaime de Maiorca" que esteve em Portugal era outro cartógrafo maiorquino que não Jaime Ribes, ou este teria estado no país antes da "época do Infante". A primeira hipótese será certamente mais provável." (Marques, 1994). Estou em crer que assim o faz por entender a vinda de Jacome num contexto mais prosaico, exclusivamente associado à cartografia, o que em nosso entender se desarticula de uma essência fundamentalmente política, de que aquele evento poderá ser afinal a face mais visível.
A questão que se pode e talvez deva colocar, é pois essa a de saber: se vem, porque vem Jafudà a Portugal cerca 1394?