Rumo a Arguim (II)
As Viagens de aproximação e reconhecimento do Golfo de Arguim:
1441 - Nuno Tristão avistou o Cabo Branco (sem o descobrir);
1442 - Gonçalo Afonso de Sintra e Dinis Dias reconhecem o Cabo Branco e a Furna e avistam os baixos de Arguim (sem os reconhecer);
1443 - Nuno Tristão descobre as ilhas de Adegete e Garças;
1444 - Lançarote de Freitas (com Gil Eanes, Nuno Tristão e Gonçalo de Sintra) descobre as ilhas de Naar e Tider;
1444 - Gonçalo Afonso de Sintra descobre Arguim;
1445 - Antão Gonçalves, Garcia Homem e Diogo Afonso recolhem João Fernandes junto a Arguim (que no Rio do Ouro havia ficado, 7 meses atrás, em expedição anterior do mesmo Antão Gonçalves juntamente com Gomes Pires).
Observando um mapa do Golfo de Arguim, poderá estranhar-se esta cronologia. Afinal Gonçalo de Sintra desce em Arguim quando um ano antes já se navegava na região sul do golfo.
Há uma descrição no Esmeraldo que dá teoricamente suporte a um reconhecimento descontinuado do golfo, pelo que a ilha de Arguim pode bem ter sido reconhecida posteriormente.
"Do cabo Branco em diante se começam os baixos de Arguim, os quais duram trinta léguas de longo e vinte de largo. E quem houver de ir pera cada um dos rios de Guiné, estando junto com o cabo Branco, faça o caminho do sul e a quarta de sudoeste dez léguas e então corra cem léguas pelo sul e a quarta do sueste, e irá ter na angra das Almadias que está sete léguas aquém do cabo Verde; e ali, indo pelo sudoeste, haverá o dito cabo. E este caminho deve fazer por ir fora dos baixos de Arguim que são muito perigosos. E quem for em vista do cabo Branco, ao sul nem ao su-sueste não verá terra, salvo em les-sueste, porque a costa em esta parte volve.
Jaz o cabo Branco com a ilha de Arguim, les-sueste e oes-noroeste, e tem doze léguas na rota. E neste caminho estão alguns baixos de pedra e de areia; e quem por aqui for, deve ir de sobre aviso que não dê em seco." (1)
Não só às datas, mas igualmente às personagens deste enredo devemos especial atenção. Acompanhemos nisto Vitorino Magalhães Godinho.
"É tradicional atribuir o descobrimento da ilha de Arguim a Nuno Tristão durante a sua viagem de 1443, mas trata-se de um engano proveniente da identificação de Adegete com Arguim, a qual não repousa em qualquer base e é até formalmente contradita.
Segundo Duarte Pacheco Pereira (cap. 25), Arguim foi descoberto por Antão Gonçalves, que por este serviço teria recebido a alcaidaria mór da vila de Tomar com o hábito de Cristo. Nada autoriza a aceitar esta indicação. Diogo Gomes, Münzer, Valentim Fernandes e o próprio Zurara (cap. 27) indicam Gonçalo de Sintra como o primeiro a visitar a ilha: possivelmente soube-se da sua existência pelo azenegue cativo." (2)
Pela pertinência da passagem que Godinho cita, vejamos o que realmente escreve Zurara:
"E despois alguu tempo da viinda de Lançarote, fez o Iffante armar hua caravella, naqual mandou aquelle Gonçallo de Sintra por capitam, avisandoo ante de sua partida que se fosse dereitamente a Guinee, e que per nhuu caso nom fezesse o contrairo. O qual seguindo vyagem, chegou ao cabo Branco; e ja veedes homees que cobiiçam cobrar fama, desejandi avantajarse sobre os outros disse que todavya elle querya ir aa ilha Dergim, aqual dally era muy acerca, onde lhe parecya que com pequeno perigoo poderya aver alguus prisoneyros (…) E parece que chegando de noyte, forom sentidos de guisa que sayndo pella manhaã, nom acharom mais de hua moça, que trouverom pera seu navyo. E dally partirom pera outra ilha, que ally esta preto, onde tomarom hua molher, porque per essa mesma guisa forom descubertos quando ally chegarom." (3)
1. Esmeraldo de Situ Orbis de Duarte Pacheco Pereira.
2. Godinho, V. (2000). Documentos sobre a Expansão Quatrocentista Portuguesa, vol II. INCM, Lisboa.
3. Zurara, G. (ed. 1841) Crónica do Descobrimento e Conquista de Guiné. J. P. Aillaud, Paris.
1441 - Nuno Tristão avistou o Cabo Branco (sem o descobrir);
1442 - Gonçalo Afonso de Sintra e Dinis Dias reconhecem o Cabo Branco e a Furna e avistam os baixos de Arguim (sem os reconhecer);
1443 - Nuno Tristão descobre as ilhas de Adegete e Garças;
1444 - Lançarote de Freitas (com Gil Eanes, Nuno Tristão e Gonçalo de Sintra) descobre as ilhas de Naar e Tider;
1444 - Gonçalo Afonso de Sintra descobre Arguim;
1445 - Antão Gonçalves, Garcia Homem e Diogo Afonso recolhem João Fernandes junto a Arguim (que no Rio do Ouro havia ficado, 7 meses atrás, em expedição anterior do mesmo Antão Gonçalves juntamente com Gomes Pires).
Observando um mapa do Golfo de Arguim, poderá estranhar-se esta cronologia. Afinal Gonçalo de Sintra desce em Arguim quando um ano antes já se navegava na região sul do golfo.
Há uma descrição no Esmeraldo que dá teoricamente suporte a um reconhecimento descontinuado do golfo, pelo que a ilha de Arguim pode bem ter sido reconhecida posteriormente.
"Do cabo Branco em diante se começam os baixos de Arguim, os quais duram trinta léguas de longo e vinte de largo. E quem houver de ir pera cada um dos rios de Guiné, estando junto com o cabo Branco, faça o caminho do sul e a quarta de sudoeste dez léguas e então corra cem léguas pelo sul e a quarta do sueste, e irá ter na angra das Almadias que está sete léguas aquém do cabo Verde; e ali, indo pelo sudoeste, haverá o dito cabo. E este caminho deve fazer por ir fora dos baixos de Arguim que são muito perigosos. E quem for em vista do cabo Branco, ao sul nem ao su-sueste não verá terra, salvo em les-sueste, porque a costa em esta parte volve.
Jaz o cabo Branco com a ilha de Arguim, les-sueste e oes-noroeste, e tem doze léguas na rota. E neste caminho estão alguns baixos de pedra e de areia; e quem por aqui for, deve ir de sobre aviso que não dê em seco." (1)
Não só às datas, mas igualmente às personagens deste enredo devemos especial atenção. Acompanhemos nisto Vitorino Magalhães Godinho.
"É tradicional atribuir o descobrimento da ilha de Arguim a Nuno Tristão durante a sua viagem de 1443, mas trata-se de um engano proveniente da identificação de Adegete com Arguim, a qual não repousa em qualquer base e é até formalmente contradita.
Segundo Duarte Pacheco Pereira (cap. 25), Arguim foi descoberto por Antão Gonçalves, que por este serviço teria recebido a alcaidaria mór da vila de Tomar com o hábito de Cristo. Nada autoriza a aceitar esta indicação. Diogo Gomes, Münzer, Valentim Fernandes e o próprio Zurara (cap. 27) indicam Gonçalo de Sintra como o primeiro a visitar a ilha: possivelmente soube-se da sua existência pelo azenegue cativo." (2)
Pela pertinência da passagem que Godinho cita, vejamos o que realmente escreve Zurara:
"E despois alguu tempo da viinda de Lançarote, fez o Iffante armar hua caravella, naqual mandou aquelle Gonçallo de Sintra por capitam, avisandoo ante de sua partida que se fosse dereitamente a Guinee, e que per nhuu caso nom fezesse o contrairo. O qual seguindo vyagem, chegou ao cabo Branco; e ja veedes homees que cobiiçam cobrar fama, desejandi avantajarse sobre os outros disse que todavya elle querya ir aa ilha Dergim, aqual dally era muy acerca, onde lhe parecya que com pequeno perigoo poderya aver alguus prisoneyros (…) E parece que chegando de noyte, forom sentidos de guisa que sayndo pella manhaã, nom acharom mais de hua moça, que trouverom pera seu navyo. E dally partirom pera outra ilha, que ally esta preto, onde tomarom hua molher, porque per essa mesma guisa forom descubertos quando ally chegarom." (3)
1. Esmeraldo de Situ Orbis de Duarte Pacheco Pereira.
2. Godinho, V. (2000). Documentos sobre a Expansão Quatrocentista Portuguesa, vol II. INCM, Lisboa.
3. Zurara, G. (ed. 1841) Crónica do Descobrimento e Conquista de Guiné. J. P. Aillaud, Paris.