Lagos aos séculos XIV e XV

"Todo o território passa por uma fase de conquistas e reconquistas, entre árabes e cristãos, ficando definitivamente sob o poder dos segundos a partir de 1249.
Começa então para Lagos uma época de expansão, que D.Diniz inicia, integrando-a num contexto mais vasto de desenvolvimento, mandando levantar nova cêrca.
Em 1361 Lagos separa-se da jurisdição de Silves, ficando vila independente, regressando ao comércio e à indústria da pesca. A sua população corresponde a 1.000 fogos.
As explorações das "almadravas" e dos a"acedares" (armações de atum e sardinha), a pesca da baleia, que se processava a partir da povoação da Sra. da Luz e a pesca do coral, eram realizadas por concessão a sicilianos, genoveses, milaneses e marselheses.
O desenvolvimento referido origina a formação de um novo núcleo urbano extramuros em torno da ermida de N.S. da Conceição (onde hoje se encontra implantada a igreja de S.Sebastião), ficando assim Lagos com dois polos de vida urbana porventura independentes, um de características defensivas - núcleo primitivo (freguesia de Sta. Maria) - outro mais de "produção", extramuros, ao qual correspondia a "esfera" mais baixa de maritimos e comerciantes.
Entre estes dois núcleos e também entre as ribeiras dos Touros e das Naus, surge uma faixa de comércio que se estende ao longo da ribeira de Bensafrim e que se consolida e rapidamente cresce com o período dis Descobrimentos.
Os dois núcleos deram origem a uma dualidade na estrutura urbana. São dois núcleos, um intramuros outro extramuros, ambos implantados sobre duas colinas, limitadas por duas ribeiras - a dos Touros e a das Naus - com duas "desembocaduras" na ribeira de Bensafrim, as quais deram origem às praças dos Touros e do Cano, actualmente do Infante e Gil Eanes, constintuindo duas saídas para o mar, independentes, representando dois lugares de intercâmbio e que se tornaram pontos fulcrais da relação terra-mar de cada um dos núcleos.
Constituíram ainda duas freguesias, a de Sta. Maria e a de S.Sebastião.
Lagos recebe o seu primeiro Foral das mãos de D.Afonso III pelo que se prova, segundo o dr. José Formosinho, que Lagos já era Concelho independente desde essa época.
Os rendimentos das salinas foram cedidos, em parte, no tempo de D.Duarte, ao Infante D.Henrique, para apoio e financiamento ao início das Descobertas.
Assinala-se a fertilidade das terras do paúl, onde existiam muito boas hortas. Nos fins do séc. XV ainda se aforavam ali terras "apauladas" e "badanal" de água.
Lagos que passou de aldeia a vila começa a ter privilégios e a expandir as suas exportações, facto este que se reflecte na própria estrutura urbana.
É uma época em que surgem vários edifícios religiosos, principalmente ermidas, erguidas pelos arrendatários das armações que se constituíram em Confrarias. São disso exemplo as ermidas de S.Roque na Meia Praia, a de S.Brás e S.Pedro do Pulgão e a de Porto Salvo.
Vários edifícios civis vão também sendo construídos como o hospital dos Gafos (Gafaria), o hospital de Lourenço Estevens, o hospital de S.Pedro, junto à ribeira dos Touros - no local da actual Messe Militar, onde também se localizaram a Torre do Relógio e as Casas da Câmara. É também edificada a ermida de Sta. Bárbara na porta de S.Gonçalo.
São fundadas Companhias para o desenvolvimento do comércio relacionado com as Descobertas, como a Parceria de Lagos em 1447 (fundada por Lançarote de Freitas) e a Casa da Guiné.
Surge também uma Confraria de Homens Pretos constituída por antigos escravos."

PAULA, R. (1992), Lagos, Evolução Urbana e Património. C.M.L., Lagos

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