Apontamentos sobre as Viagens na primeira metade da década de 1440
1440
"Bem é que no ano de quarenta [1440] se armaram duas caravelas, a fim de irem àquela terra, mas porque houveram aqueecimentos [acontecimentos] contrários, não contamos mais de sua viagem."(Crónica da Guiné, cap. XI)Depois do interregno de 37-40, este é o primeiro gesto que se anota.
1441
Viagem de Antão Gonçalves, guarda roupa do Infante D.Henrique e capitão do pequeno navio.Nesta viagem temos conhecimento que seguiu Afonso Guterres, moço de câmara do Infante e escrivão do navio.O destino da viagem seria aparentemente o Rio do Ouro. Sabemos que foi, pelo menos, até ao lugar que ficará conhecido como Porto Cavaleiro.Um segundo navio (uma caravela segundo Zurara) chega do Reino com Nuno Tristão, cavaleiro da casa do Infante e capitão do navio. Aparentemente é neste segundo navio que seguem Diogo Valadares, que depois foi alcaide-mór de Vila Franca e Gonçalo de Sintra. Há registo ainda de um Gomes Vinagre, moço de câmara do Infante.Antão Gonçalves é armado cavaleiro por Nuno Tristão, depois do "feito" de cativo de mouros no lugar que ficou por isso também conhecido como o tal Porto Cavaleiro.É nestes cativos que vem Adahu, azenegue e mourisco falante.Antão Gonçalves regressa a Portugal ao passo que Nuno Tristão continua a descida da costa, cumprindo a passagem da Pedra da Galé e chegando ao cabo que ficará conhecido como Cabo Branco "onde saíram em terra" , segundo Zurara (Crónica da Guiné).
1442 (?)
Viagem de Gonçalo de Sintra e Denis Dias enviados pelo Infante D. Pedro como Regente (em nome do Rei).
Entram no golfo de Arguim e "descobrem uma pequena ilha, onde hoje está o castelo, e que tinha o nome de Arguim". Diz Münzer que tal se passou no ano de 1445, o que é impossível, uma vez que Gonçalo de Sintra morreu em África no descurso de uma viagem entre Agosto e Dezembro de 1444. De entre outros motivos, Vitorino Magalhães Godinho deduz que esta viagem ocorreu então em 1442, se bem que conclua ainda que terão visitado os baixios de Arguim mas não a ilha.
O que Münzer nos diz é que foi nesta viagem que se descobriu a ilha de Arguim. E esse é também o único relato que temos sobre a descoberta de Arguim (ilha).
1443
Viagem de Nuno Tristão.
Descobre a ilha de Adegete (e das Garças).
"E junto com esta ilha [Adegete] acharam outra [ilha das Garças], em que havia infindas garças reais, as quais parece que se juntavam ali para criarem."
(Zurara)
"e tem três Ilhas além desta [Arguim], (…) [e uma é] a Ilha das Garças, porque os primeiros Portugueses acharam nela tanta quantidade de ovos destas aves marítimas, que carregaram com eles duas barcas."
(Cadamosto)
Sobre Adegete diz Vitorino Magalhães Godinho:
"Esta ilha tem sido designada por Gete e identificada com a de Arguim.
Afigura-se-me preferível a leitura Adegeth em face dos textos de Valentim Fernandes e João de Barros.
A identificação de Adegete e Arguim constitui equívoco, João de Barros declara: "Adegete que é uma das a que nós agora chamamos de Arguim" (liv. I, cap. 7); Valentim Fernandes distingue-as explicitamente, sem qualquer possibilidade de engano. Aliás o texto de Zurara não legitima a assimilação, o cronista fala delas separadamente como de duas ilhas, e indica expressamente que Adegete é ilha pequena, ao passo que Arguim era considerada, em comparação, ilha grande (Valentim Fernandes).
Na viagem de Lançarote com seis velas em 1443 visitaram as ilhas das Garças, Naar e Tider, prova de que a de Arguim ainda não estava descoberta."
1444
Viagem de Antão Gonçalves, Diogo Afonso e Gomes Pires.
Trata-se da viagem em que segue João Fernandes.
São 3 caravelas: 2 do Infante D. Henrique e uma, a de Gomes Pires, do Infante D.Pedro.
Vitorino Magalhães Godinho apresenta uma interessante carta de quitação, publicada em "Documentos das Chancelarias relativos a Marrocos", passada a Diogo Afonso Malheiro:
"(…) E os trinta quatro mil quinhentos trinta oito reais ix pretos despendeu em compra de duas mil quatrocentas quarenta duas varas do dito pano, que forom compradas aos preços sussos escritos, e entregues a Gomez Pirez, nosso patram, pera levar ao Rio do Ouro com suas sarapilheiras, segundo mostrou delo seu conhecimento fecto sinado per Lopo Fernandez do Condado, escudeiro da casa do Ifante dom Pedro, que ia por escrivam da nossa caravela que os ditos panos levou ao dito rio, e assinado per Gomez Pirez fecto xiiij dias de Maio de iiij Riiij (1444)."
"Capitollo XXIX
Como Antam Gllz, e Gomez Pirez, e Diego Affonso, forom ao ryo do Ouro.
Aquelle anno (1443?) mandou o Iffante Antam Gllz, aquelle nobre cavalleiro de que ja fallamos, em huu caravella, e Gomez Piz, patrom delRey, em outra caravella; e esta hya per mandado do Iffante dom Pedro, que a aquelle tempo regya o regno em nome delRey. E tambem era hi outra caravella, em que hya huu Diego Affonso, criado do Iffante dom Henrique; os quaaes todos juntamente hyam pera veer se poderyam trazer os Mouros daquella parte a trautos de mercadorya. E ouveram falla e grandes seguranças com os Mouros que o Iffante la mandava, pera veer se com o dicto fingimento os poderyam encaminhar pera salvaçom. Porem nom poderam com elles encaminhar, nem fazer mercadarya, mais que de huu negro. E assy se tornarom sem mais fazer, senom que trouverom huu Mouro velho, que per sua voontade quis viir veer o Iffante, do qual recebeo muyta mercee, segundo sua pessoa, e despois o mandou tornar pera sua terra. Mas nom me spanto tanto da viinda daqueste, como de huu scudeiro que hya com Antam Gllz, que se chamava Joham Fernandez, que de sua voontade lhe prouve ficar em aquella terra, soomente polla veer, e trazer novas ao Iffante, que quando quer que se acertasse de tornar [1]. E do movymento desde scudeiro, e de sua boa bondade, leixo o processo pera outro lugar.
[1] Barros diz: 'Para particularmente ver as cousas daquelle sertão que habitão os Azenegues, e dellas dar razão ao Infante, confiando na lingoa delles que sabia, o qual tornou depois ao reino.' "
Como Antam Gllz, e Gomez Pirez, e Diego Affonso, forom ao ryo do Ouro.
Aquelle anno (1443?) mandou o Iffante Antam Gllz, aquelle nobre cavalleiro de que ja fallamos, em huu caravella, e Gomez Piz, patrom delRey, em outra caravella; e esta hya per mandado do Iffante dom Pedro, que a aquelle tempo regya o regno em nome delRey. E tambem era hi outra caravella, em que hya huu Diego Affonso, criado do Iffante dom Henrique; os quaaes todos juntamente hyam pera veer se poderyam trazer os Mouros daquella parte a trautos de mercadorya. E ouveram falla e grandes seguranças com os Mouros que o Iffante la mandava, pera veer se com o dicto fingimento os poderyam encaminhar pera salvaçom. Porem nom poderam com elles encaminhar, nem fazer mercadarya, mais que de huu negro. E assy se tornarom sem mais fazer, senom que trouverom huu Mouro velho, que per sua voontade quis viir veer o Iffante, do qual recebeo muyta mercee, segundo sua pessoa, e despois o mandou tornar pera sua terra. Mas nom me spanto tanto da viinda daqueste, como de huu scudeiro que hya com Antam Gllz, que se chamava Joham Fernandez, que de sua voontade lhe prouve ficar em aquella terra, soomente polla veer, e trazer novas ao Iffante, que quando quer que se acertasse de tornar [1]. E do movymento desde scudeiro, e de sua boa bondade, leixo o processo pera outro lugar.
[1] Barros diz: 'Para particularmente ver as cousas daquelle sertão que habitão os Azenegues, e dellas dar razão ao Infante, confiando na lingoa delles que sabia, o qual tornou depois ao reino.' "
Zurara, G. (1844), Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné. J.P.Aillaud, Paris.
1444
Viagem de Lançarote, almoxarife da vila de Lagos e capitão-mór da expedição.
Vão 6 caravelas com Gil Eanes, Estevão Afonso, Rodrigo Álvares e João Dias.
E se diz que a ilha de Naar é "mui perto dali" das Garças. Os mouros que Tristão levou terão informado também que em Naar havia cerca de 200 almas. Martim Vicente e Gil Vasques (já haviam estado em Naar, (?)) seguiam nesta viagem de Lançarote.
Tider também ali ficava perto de Naar (e das Garças que era perto de Naar).
1444
Viagem de Gonçalo Afonso de Sintra, escudeiro e criado na casa do Infante D.Henrique. Gonçalo de Sintra seria escrivão das tercenas de Lisboa.
Morre na ilha de Naar com Lopo Caldeira e Lopo de Alvelos, moços da câmara do Infante, Jorge, moço de estribeira, Álvaro Gonçalves, piloto, e outros três marinheiros.
1445
Viagem de Antão Gonçalves, Diogo Afonso e Garcia Homem
Trata-se da viagem em que retorna João Fernandes.