Mileto
Ao séc. VI a.C. em Mileto, na Jónia, circulam já uma cosmovisão e uma mundividência que continuarão a ter ecos na Alta Idade Média e cuja face mais visível se espelha na tradição dos mapa-mundo do tipo TO.
É a Anaximandro de Mileto a quem mais tarde, na Grécia, vemos associada a ideia de um mapa-mundo de forma circular, traçado para uma ecúmena oblonga circundada por um vasto Oceano, por vezes referido como rio Oceano. Às terras habitadas é-lhes reconhecido um umbigo definindo um eixo onde tomam lugar os rios Nilo e Don a partir do Mediterrâneo. Esta ideia germinal onde a Cristandade Ocidental, desde pelo menos Isidoro de Sevilha, viu com grande entusiasmo na representação da terra o corpo de Cristo crucificado, foi naturalmente abraçada deslocando simplesmente o centro da ecúmena para Jerusalém.
Pese embora a tradição atribua a Anaximandro a ideia original do primeiro mapa-mundo científico, parece-me mais razoável pensar no círculo de Mileto, onde pelo menos Thales e Anaximenes se juntam a Anaximandro num quadro de figuras que partilham temas e ideias, situando nesse cenário de convivência o foco das atenções.
Sublinhe-se que o aparecimento de um mapa-mundo, ou o interesse pela realização de tal género, não surge independentemente de outras iniciativas. Melhor dizendo, seria expectável que o interesse por questões daquela ordem reflectissem outras iniciativas.
O episódio de Euthymenes é bem disso exemplo. Contemporâneo daqueles proto-filósofos de Mileto, navegador natural de Marselha, diz-se ter realizado o périplo do Mediterrâneo, grande eixo do mundo conhecido. Extraordinariamente Euthymenes aventura-se no Oceano ocidental descendo a costa de África e retornando. Ao certo nada se sabe da viagem na costa africana, significativo foi ter regressado superando dessa forma o limiar mítico das trevas e da morte.
Se numa perspectiva histórica europeia o ocidente, com o Oceano em lugar de destaque, era tradicionalmente associado ao lugar da morte, é de facto interessante pensar no significado daquele episódio.
Desconhece-se com exactidão o reflexo que a viagem de Euthymenes teve à época nos circuitos intelectuais Mediterrâneo fora, sabe-se todavia que Hekataios (ca. 510) foi portador em Mileto dos relatos do navegador marselhês. Podemos conjecturar hoje sobre estes acontecimentos mais em detalhe, porém creio que destes factos se pode primeiramente sublinhar que quer a realização do mapa-mundo jónico, de Mileto, cuja empresa é sobretudo realçada pela sua essência científica, quer a viagem de Euthymenes, expôem uma atitude supostamente diferente: trata-se de uma postura que é assinaladamente racional.
É a Anaximandro de Mileto a quem mais tarde, na Grécia, vemos associada a ideia de um mapa-mundo de forma circular, traçado para uma ecúmena oblonga circundada por um vasto Oceano, por vezes referido como rio Oceano. Às terras habitadas é-lhes reconhecido um umbigo definindo um eixo onde tomam lugar os rios Nilo e Don a partir do Mediterrâneo. Esta ideia germinal onde a Cristandade Ocidental, desde pelo menos Isidoro de Sevilha, viu com grande entusiasmo na representação da terra o corpo de Cristo crucificado, foi naturalmente abraçada deslocando simplesmente o centro da ecúmena para Jerusalém.
Pese embora a tradição atribua a Anaximandro a ideia original do primeiro mapa-mundo científico, parece-me mais razoável pensar no círculo de Mileto, onde pelo menos Thales e Anaximenes se juntam a Anaximandro num quadro de figuras que partilham temas e ideias, situando nesse cenário de convivência o foco das atenções.
Sublinhe-se que o aparecimento de um mapa-mundo, ou o interesse pela realização de tal género, não surge independentemente de outras iniciativas. Melhor dizendo, seria expectável que o interesse por questões daquela ordem reflectissem outras iniciativas.
O episódio de Euthymenes é bem disso exemplo. Contemporâneo daqueles proto-filósofos de Mileto, navegador natural de Marselha, diz-se ter realizado o périplo do Mediterrâneo, grande eixo do mundo conhecido. Extraordinariamente Euthymenes aventura-se no Oceano ocidental descendo a costa de África e retornando. Ao certo nada se sabe da viagem na costa africana, significativo foi ter regressado superando dessa forma o limiar mítico das trevas e da morte.
Se numa perspectiva histórica europeia o ocidente, com o Oceano em lugar de destaque, era tradicionalmente associado ao lugar da morte, é de facto interessante pensar no significado daquele episódio.
Desconhece-se com exactidão o reflexo que a viagem de Euthymenes teve à época nos circuitos intelectuais Mediterrâneo fora, sabe-se todavia que Hekataios (ca. 510) foi portador em Mileto dos relatos do navegador marselhês. Podemos conjecturar hoje sobre estes acontecimentos mais em detalhe, porém creio que destes factos se pode primeiramente sublinhar que quer a realização do mapa-mundo jónico, de Mileto, cuja empresa é sobretudo realçada pela sua essência científica, quer a viagem de Euthymenes, expôem uma atitude supostamente diferente: trata-se de uma postura que é assinaladamente racional.