O Paralelo de Alcáçovas

É interessante que se tenha adoptado no Tratado de Alcáçovas-Toledo (1479-1480) para a regulação da contenda Ibérica, um paralelo definido a partir do Cabo Bojador [link], ou seja, usando o mesmo princípio que antes servira para delimitar as terras habitadas, traçando um eixo precisamente no local onde sempre fora apontado o seu limite (mitológico) [link] [link].

É claro que em 1480 os portugueses navegavam já muito a sul do Cabo Bojador, pelo que a antiga partição do mundo não passava, na segunda metade de Quatrocentos, de um arcaísmo medievo.

Todavia e se bem que algumas concepções sobre as terras habitadas e o mundo em geral se fossem modernizando, estes processos são sempre complexos e palco de reiteradas defesas, desde logo e muito em particular sobre a mundividência vigente. Duarte Pacheco Pereira no seu Esmeraldo de Situ Orbis [link] continua a sugerir a existência de uma terra primordial para lá do Oceano e este a circundar a orbe terrestre.

O paralelo de Alcáçovas tem por isso um duplo carácter simbólico. Ele define o antigo limite da ecúmena e simultaneamente assinala afinal o lugar que os portugueses abriram à navegação. É por isso um símbolo para Portugal e um instrumento de afirmação de identidade. Tem um significado maior, justamente nas relações de forças no ambiente da Península, mas igualmente no contexto mais alargado da Cristandade Ocidental.

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