“Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor.” Fernando Pessoa Sempre se tem procurado nos baixios, nas restingas, nas correntes, nos açoreamentos, enfim, na natureza das circunstâncias palpáveis e visivelmente suspeitas, uma razão, ou um conjunto delas, para achar a dificuldade na passagem do Cabo Bojador. Desde a Antiguidade, e muito em particular desde que os filósofos jónicos projectaram uma mundividência pensada à escala mediterrânica, o Mundo representado adquire expressão plástica, desde então tida como uma posição de verdade. As propostas medievais mais não fizeram do que acentuar e legitimar essa visão, contribuindo para a mitificação dos espaços, particularmente os que, como o Bojador, nitidamente identificavam limites de uma conjectura geográfica. O Bojador assinalava por isso, e sobretudo a partir das cosmologias alto-medievas, o lugar ermo e esquina fantástica das terras emergentes habitadas, conspicuidade para lá da qual se empurravam as palavras angu