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Showing posts from November, 2014

Tânger e Ceuta

Limitar o acesso atlântico ao Mediterrâneo, por via de uma posição concertada em Ceuta e Tânger, é uma perspectiva de vistas mais largas do que as tradicionalmente apontadas. Não quero com isto dizer que os defensores da continuidade em Ceuta e da campanha militar fracassada por Tânger tivessem de facto uma visão tão plena do contexto, mas as oportunidades que daí emergiriam tornariam evidentes as vantagens desse esforço. O que não se pode é pensar de modo taxativo a ideia da posse de Tânger tão só como um gesto de arcaico feudalismo. Talvez fosse para a maioria dos intervenientes, todavia espreita ali sempre a suspeita de uma ambição de outra escala. [ link ]

Mestre Jácome

Ainda que não adiante qualquer desenlace sobre quem é mestre Jácome, e esse é o interesse que nos move, não quero aqui deixar de dar conhecimento de uma Carta de Aforamento da Chancelaria de D.João I, em nome de um mestre Jácome. Datada de 12 de Abril de 1427, temos conhecimento através dessa Carta, passada por D.João I, de um aval de aforamento dado por uma herdade, de nome Alagoa, em Alverca, a um mestre Jácome. Qual o interesse desta Carta? É documental. Não nos diz mais sobre aquela personagem, mas situa-a a viver em Portugal em 1427. Será determinante se se confirmar que este é o mestre em cartas de marear referido no Esmeraldo [ link ]. Deixaria liminarmente de parte a tese que sugere ser Jácome o mesmo que Jafudà Cresques [ link ]. Aproveito para tocar um outro ponto. Segundo alguns investigadores, temos, cerca de 1390, um mestre Jácome, pintor, ligado à Coroa de D.João I. Esta figura é curiosa porque é vítima de um infortúnio desinquietante. Apesar de ser apontado como pi

D. João I, Rei de Portugal

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Retrato de El-Rei D.João I. Óleo sobre madeira de carvalho Autor desconhecido Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal. link

D. Fernando, Infante Santo

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Tríptico do Infante Santo (D.Fernando) Óleo sobre madeira de carvalho Autor desconhecido Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal. Datação dendrocronológica das tábuas do Tríptico: 1413 (a partir de) Campanha Militar de Tânger: 1433-1437 Cativeiro do Infante D.Fernando: 1437-1443

Isabel de Portugal, Duquesa da Borgonha

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Retrato de Filipe, "O Bom" e Isabel de Portugal (c. 1430) Óleo sobre madeira Autor desconhecido Museu de Schone Kunsten, Ghent, Bélgica. Imagem: link

A Passagem do Cabo Bojador

Para perceber algumas das iniciativas expedicionárias atlânticas portuguesas na primeira metade do séc. XV, particularmente o episódio da difícil passagem do Cabo Bojador, será pertinente ver e perceber como pensava o mundo o homem tardo medievo comum. A tradição lembrava, desde sempre, que as terras habitadas eram circundadas por um vasto Oceano. Todavia, para os limites da ecúmena o homem projectava ideias fantásticas de carácter mítico. Tais ideias faziam crer que dobradas as esquinas do espaço ecuménico, forças maiores impediriam o retorno. À imaginação juntavam-se as representações, nascidas sobretudo nos circuitos monásticos, reforçadas, portanto, por narrativas bíblicas. Acontece que o Cabo Bojador assinalava justamente o termo das terras habitadas e, consequentemente, o limite à navegação. A transposição de tal lugar não tinha qualquer hipótese de figurar no imaginário de um crente. Não deixa assim de ser curioso que caiba ao Infante D.Henrique, homem de fé apaixonada, a i

Mileto

Ao séc. VI a.C. em Mileto, na Jónia, circulam já uma cosmovisão e uma mundividência que continuarão a ter ecos na Alta Idade Média e cuja face mais visível se espelha na tradição dos mapa-mundo do tipo TO. É a Anaximandro de Mileto a quem mais tarde, na Grécia, vemos associada a ideia de um mapa-mundo de forma circular, traçado para uma ecúmena oblonga circundada por um vasto Oceano, por vezes referido como rio Oceano. Às terras habitadas é-lhes reconhecido um umbigo definindo um eixo onde tomam lugar os rios Nilo e Don a partir do Mediterrâneo. Esta ideia germinal onde a Cristandade Ocidental, desde pelo menos Isidoro de Sevilha, viu com grande entusiasmo na representação da terra o corpo de Cristo crucificado, foi naturalmente abraçada deslocando simplesmente o centro da ecúmena para Jerusalém. Pese embora a tradição atribua a Anaximandro a ideia original do primeiro mapa-mundo científico, parece-me mais razoável pensar no círculo de Mileto, onde pelo menos Thales e Anaximenes se