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Showing posts from February, 2014

A Feitoria de Arguim

"O Senhor Infante D.Henrique fez nesta ilha de Arguim um contrato por dez anos, deste modo: que ninguêm pudesse entrar no golfo por traficar com os Árabes, salvo aqueles que entrassem no contrato, o qual tem uma feitoria da dita ilha, e feitores, que compram e vendem àqueles Árabes, que vêm à marinha (…); de modo que este Sr. Infante faz actualmente trabalhar em uma fortaleza na dita ilha, para conservar este comércio para sempre; e por essa razão todos os anos vão e vêm caravelas de Portugal à ilha de Arguim." PERES, D. (1948). Viagens de Luis de Cadamosto e de Pedro de Sintra . Academia Portuguesa de História, Lisboa

Adahu

"Cheios de satisfação, saltaram em terra [Nuno Tristão e Antão Gonçalves] com as suas armas e apanharam treze homens e mulheres (…). Entre eles, tomaram um ancião muito respeitável, de nome Adavu [Adahu]. Alguns deles eram ruivos, outros negros. (…) Por estes teve início o conhecimento daquela região: como era povoada. (…). O senhor Infante ficou a saber por eles o caminho para chegar a Tambucutu [Tombouctou]. (…) Disseram que os árabes quando vão de Adém [Ouadane] para Tambucutu levam um total de 400 a 500 camelos em fila. (…) Disseram também que muitas vezes de Tambucutu faziam regresso uns 300 camelos carregados de ouro. Foi esta a primeira notícia que se pôs a correr sobre o ouro e onde se encontrava a origem dele." SINTRA, D.G. (2002). Descobrimento Primeiro da Guiné . Edições Colibri, Lisboa Adahu é uma figura curiosa das primeiras navegações atlânticas portuguesas. É Adahu quem pela primeira vez dá directo conhecimento aos portugueses sobre questões de interesse ec

Arguim

"Ilha na costa ocidental africana, próxima do cabo Branco, a 20º 40' lat. N. e 16º 50' long. W. Nuno Tristão tem passado por ser o descobridor desta ilha, em 1443; no entanto, segundo os testemunhos de Zurara, de Valentim Fernandes e de Diogo Gomes, Gonçalo de Sintra deve ter sido o primeiro a chegar ali. A posse da ilha veio a ser de grande importância para o comércio com o interior africano, e o facto de nela haver abundância de água doce e de peixe contribuiu favoravelmente para a fixação portuguesa. Do ponto de vista comercial as conquistas e praças do Norte de África não haviam correspondido aos objectivos pretendidos. Arguim vai ser o nosso primeiro entreposto comercial na costa africana, onde se fará regularmente durante muitos anos o intercâmbio de ouro e de escravos, por tecidos, cavalos e trigo 'de que os naturais estavam sempre famintos' (Cadamosto, cap. X.). O facto de, provavelmente, ainda em vida do Infante D.Henrique (talvez em 1455, segundo Cadamost

Chinguetti

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João Fernandes

"Capitollo XXIX Como Antam Gllz, e Gomez Pirez, e Diego Affonso, forom ao ryo do Ouro. Aquelle anno (1443) mandou o Iffante Antam Gllz, aquelle nobre cavalleiro de que ja fallamos, em huu caravella, e Gomez Piz, patrom delRey, em outra caravella; e esta hya per mandado do Iffante dom Pedro, que a aquelle tempo regya o regno em nome delRey. E tambem era hi outra caravella, em que hya huu Diego Affonso, criado do Iffante dom Henrique; os quaaes todos juntamente hyam pera veer se poderyam trazer os Mouros daquella parte a trautos de mercadorya. E ouveram falla e grandes seguranças com os Mouros que o Iffante la mandava, pera veer se com o dicto fingimento os poderyam encaminhar pera salvaçom. Porem nom poderam com elles encaminhar, nem fazer mercadarya, mais que de huu negro. E assy se tornarom sem mais fazer, senom que trouverom huu Mouro velho, que per sua voontade quis viir veer o Iffante, do qual recebeo muyta mercee, segundo sua pessoa, e despois o mandou tornar pera sua terra

Prehistoric Sahara Trails

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"The Old Sahara was in fact a cradle of early African civilisation. Far from being a natural barrier between the peoples of West and North Africa, the Old Sahara joined these peoples together. All could share in the same ideas and discoveries. Many travellers journeyed through the green Sahara in New Stone Age times. They used horses and carts. Ancient rock pictures of these horses and carts have been found along two main trails between North and West Africa. One of these trails passed through Mauretania in the western Sahara, while another went through the central Sahara between the middle section of the Niger River and modern Tunisia. We can be sure that new ideas and discoveries were taken back and forth by these old travellers." DAVIDSON,B. (1985). A History of West Africa 1000-1800 . Longman Group Limited, Essex, England

The Saharan Trade

"Trade in the Western Sahara, along the routes across Adrar, increased again in the fifteenth century with the growing importance of the salt mine of Idjil. Following a rather vague reference to this mine by Ca da Mosto in 1455, its trade was describer in detail by V. Fernandes half a century later. Walata, along with the desert towns of Tichitt and Wadan, participated in the salt trade of Idjil. Wadan was then the principal town of Adrar, and the only town with a wall. Part of Mali's gold, according to Ca da Mosto, was sent to Hoden (Wadan) from where it was distributed to Oran, Hunayn, Fes, Marrakush, Safi, and Massa, to be sold to the Italian merchants. When the Portuguese reached the Saharan coast in the middle of the fifteenth century they established their factory in Arguin, close to the flourishing trading towns of Adrar. For a short time the Portuguese even tried to establish  an entrepôt in Wadan (Adrar). Because of the hardships of the desert and the hostility of th

An optimal zone: the West African savanna

"In the past the Sahara formed what Bovill (1968:1) called 'one of the world's greatest barriers to human movement', although, as Bovill was able to show so brilliantly, that barrier was repeatedly bridged by trade." "If the ocean could remain a barrier for so long, it is perhaps surprising that so formidable a barrier as the Sahara Desert should have been successfully bridged by trade at least eight centuries earlier. The fact that it was has often been explained as the result of another cultural innovation: the introduction to Africa of the domesticated camel, as a mode of transport over long distances through arid regions (Bulliet, 1975). It will be argued below that the 'ship of the desert', as the camel has so often been called, did not inaugurate trans-Saharan trade but, in the hands of people who knew how best to utilize its peculiar physiology, it undoubtedly led to a very  substantial development of that trade. The camel seems to have been

Rotas caravaneiras e dos comércios do ouro

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LEVTZION, N. (1980). Ancient Ghana and Mali . Africana Publishing Company, New York.

Arguim, Azougui, Chinguetti, Ouadane, Tichitt, Oualata e Toumbouctou

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Imagem original: Google Maps

A "Volta pelo largo"

Extracto de um texto [link]  do professor Francisco Contente Domingues. "Aos navegadores portugueses puseram-se depois dois problemas distintos. O primeiro consistiu na orientação em mar alto. A progressão ao longo da costa africana fazia-se sem dificuldades a partir da costa portuguesa, beneficiando de ventos e correntes favoráveis. Quanto mais se progredia para Sul, porém, maior era a dificuldade do retorno, que se fazia contra as condições físicas de navegação. Para os pequenos navios, como a barca e a caravela, que se empregaram a início, o retorno a Portugal junto à costa tornava-se cada vez mais penoso. A partir de um momento se que pode hoje situar nas datas indicadas, os navegadores portugueses viram-se obrigados a fazer a chamada "volta pelo largo", ou seja, a internarem-se no mar alto para contornar os ventos que sopravam constantemente no sentido aproximado Norte-Sul junto à costa africana. Essa manobra, perfeitamente estabelecida na década de 1440, só podia

Azougui

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Teórica mas criticamente considero razoável que João Fernandes tenha percorrido do Rio do Ouro a Arguim um trajecto com vértice em Azougui, ou mesmo Ouadane. Vamos procurar ver porquê. Creio que é natural aceitar que o episódio de João Fernandes é dependente da realidade geográfica e social da costa ocidental africana. Do Rio do Ouro a Arguim, João Fernandes poderia conseguir viagem apanhando uma das caravanas que do Rio do Ouro largasse. Como é próprio, tal viagem seguiria pelas rotas praticadas. Segundo Zurara, seguiu viagem numa pequena caravana de dimensão pouco mais que familiar. Talvez tal caravana seja o retrato do que por aquele lugar era norma; talvez seja fruto do que a sua negociação e condição permitiam. Ao invés, qualquer sugestão que nos leve a apontar a uma descida ao longo da costa é pouco credível. Não existem rotas, tráfegos de comércios ou outros, nem tão pouco alguêm se iria predispor a conduzir caprichosamente pela costa um viajante desconhecido. Quem vive j

O Fra Mauro

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Os primeiros dados sobre a Cartografia portuguesa, aqueles que precedem e directamente sustentam a emergência dessa mesma Cartografia, apesar de pontualmente documentados não encontraram qualquer prova material. Vimos como em 1428 o Infante D.Pedro trouxe de Veneza um mapa-mundo [link] . Trata-se de um elemento curioso e também de um aspecto novo na diplomacia portuguesa. Depois, e desde 1434, talvez mesmo logo desde a década de 40, sabemos que em Portugal se terão feito cartas náuticas. Tal foi pelo menos solicitado pelo Infante D.Henrique [link] [link] . Ainda em 1459 há conhecimento da chegada a Portugal de um novo mapa-mundo, feito igualmente em Veneza, a pedido do rei D.Afonso V, pelo monge Fra Mauro. De todos estes factos não temos hoje qualquer vestígio material conhecido. Paralelamente fala-se ainda da vinda de um mestre em cartas de marear a Portugal, a pedido do Infante D.Henrique [link] , mas sobre este episódio temos várias reservas [link] . De tudo isto há porém u

Sobre o mapa-mundo que trouxe o Infante D.Pedro

"No ano de 1428 diz [António Galvão] que foi o Infante D.Pedro a Inglaterra, França, Alemanha, à Casa Santa e a outras daquela banda, tornou por Itália, esteve em Roma e Veneza e trouxe de lá um Mapamundo que tinha todo o âmbito da terra e o Estreito de Magalhães, que se chamava Cola do Dragão [gola do dragão?] , o Cabo da Boa Esperança, fronteira de África, e que deste Padrão se ajudara o Infante D.Henrique em seu descobrimento." GALVÃO, A.,  Tratado dos Descobrimentos Antigos e Modernos . Officina Ferreiriana, Lisboa, 1731.

Lagos

Numa vila que tem por eixo uma escala de interesses baseada no mar e cujos vectores estão nas pescas, nos comércios e nas actividades mercantis, as elites tardo medievas de Lagos estão naturalmente ligadas ao mar. O seu sucesso pode simplesmente ser conjunturalmente fortuito, mas é claramente no circuito lacobrigense que se funda uma dinâmica cujo ponto alto se encontrará na criação da Feitoria de Arguim e respectiva Casa dos Tratos de Arguim, depois da Guiné e ainda da Mina e que é posteriormente transladada para Lisboa. E por tudo isto Lagos cresceu. Cresceu por si só, mas igualmente por se posicionar num âmbito de interesses superiores particularmente favoráveis à vila algarvia no pós conquista de Ceuta. É com algum critério que se aceita pois poder ter a Coroa mitigado interesses e políticas de Estado em Lagos, ao deslocar para aí uma comunhão com as iniciativas locais, das quais a mais visível será sem dúvida a vinda do Infante D.Henrique para Lagos. Mas sobre tudo isto subsis

Navegadores de Lagos

Breve lista de navegadores lacobrigenses de até meados do séc. XV: Estevão Afonso; Pedro Alemão; Rodrigo Alvares; Soeiro da Costa (alcaide de Lagos e sogro de Lançarote de Freitas); João Dias; Lourenço Dias (fundador da Irmandade do Senhor Jesus na Igreja de Stª. Maria); Vicente Dias; Afonso Eanes; Fernando Eanes; Gil Eanes; Lourenço de Elvas; Lourenço Estevens; João Fernandes; Álvaro de Freitas; Lançarote de Freitas (almoxarife do rei da vila de Lagos); Antão Gonçalves (escrivão da puridade da casa do Infante D.Henrique); Gil Leonel; António Gago (Gago e Lourenço Gomes terão supostamente estado na ilha da Madeira antes de 1418); Lourenço Gomes; Diogo Gonçalves; Gil Gonçalves; Gomes Pires; Rui Lourenço Rixa; Diogo Gomes de Sintra; Gonçalo Afonso de Sintra; Pedro de Sintra (eventualmente filho de Gonçalo de Sintra?); Rodrigo Anes de Travassos; Nuno Tristão (teve por filho João Afonso que foi com Bartolomeu Dias); Martim Vicente; Fernão Vilarinho; João Vil