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Showing posts from July, 2013

Arguim: a Cerne do périplo de Hanno

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Major James Rennell No séc. V a.c., Hanno, almirante cartaginês, afirma ter navegado no mar Oceano para lá das Colunas de Hércules, tendo percorrido depois destas igual distância à que fizera de Cartago às Colunas, e assim alcançando uma pequena ilha, recolhida no interior de grande baía da costa ocidental africana, a que chamou de Cerne. Foi Plínio, o Velho , ao séc. I d.c., na sua monumental Naturalis Historiae , obra de carácter enciclopédico, quem talvez primeiro tenha anotado o relato de Hanno. No primeiro quartel de Quatrocentos, talvez alertado sobre a questão das navegações antigas no Oceano, o cartógrafo maiorquino Mécia de Viladestes repescou o tema da narrativa clássica, tendo então desenhado numa carta-portulano sua, em 1413, uma galé a sul das Afortunadas, eventualmente assinalando a viagem do almirante. Será antes a viagem de Jaume Ferrer ao Rio do Ouro? Talvez sim. Também Duarte Pacheco Pereira (1460-1533) levou bastante a sério o relato de Hanno, que lê em Pl...

Nos bancos de Arguim

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Le Radeau de la Méduse  (1818-1819) Oil on Canvas Théodore Géricault Louvre, Paris Imagem: Wikipedia

Do Cabo Bojador a Arguim

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Imagem original: NASA Delicioso relato de António Borges Coelho da viagem expedição de 1445 "Lançarote, os juízes, o alcaide e os oficiais da vereação da vila de Lagos obtiveram licença para nova expedição. Nesta terra fizestes a maior parte das vossas armações, disseram ao Infante. Além de Lançarote, os capitães eram Soeiro da Costa, seu sogro, que tinha estado na batalha de Azincourt, Álvaro de Freitas, comendador da Ordem de Santiago, Gomes Pires, patrão d'el-rei, Rodrigo Anes de Travassos, criado do Regente e escudeiro mui adido, Palenço que fizera grande guerra contra os mouros, Gil Eanes de Lagos e Estevâo Afonso. De Lagos partiam 13 caravelas. De Lisboa e da ilha da Madeira, o resto. Dinis Dias, o primeiro que passou à terra dos negros, armou a caravela de D. Álvaro de Castro; Tristão, um dos capitães da Madeira, capitaneou a sua; ia outra caravela da Atouguia; João Gonçalves Zarco enviava duas caravelas. A expedição juntou 26 caravelas, mais a fusta do Pal...

O Comércio de Arguim

De Vitorino Magalhães Godinho lemos o seguinte: "Na Relação de Diogo Gomes lê-se que no tempo do Infante D. Henrique os alarves traziam a Arguim ouro em pó, pagando-lhes os portugueses com trigo, mantas e outras mercadorias; e indica-se que estas transacções continuavam à data da redacção desse relato, ou seja, na última década do século XV. Este ponto é confirmado por Münzer, que esteve em Portugal em 1494, pois diz que se troca actualmente trigo por ouro e panos por escravos e outras cousas. (…) O comércio de Arguim manteve-se florescente no meio século de 1455 a 1505. (…) Não sabemos qual o total de escravos que teriam vindo de Arguim desde 1450 a 1505. Se supusermos que se manteve a média anual de 750 referida por Cadamosto relativamente a 1455, teremos 41250. Não há razões para crer que o número anual fosse inferior a algumas centenas, de modo que ao todo não ficaria talvez abaixo de 25000. Deve notar-se que parte era reexportada para Castela, Aragão e outros países. O tota...

A feitoria portuguesa de Arguim

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Na imagem, Ouadane . Entreposto em oásis sob o eixo senegalês-marroquino das rotas do ouro e escravos, e que poderá ter estado na base da fundação da feitoria portuguesa de Arguim na costa ocidental africana. A visão portuguesa sobre Marrocos não se pode ler dissociada do enredo Peninsular. Qualquer que seja a perspectiva, será sempre intrínseca da questão castelhano-aragonesa. Em que medida? Na medida de uma gestão de equilíbrios, influências e pressões: na Península; indirectamente na Europa; nos acessos ao Mediterrâneo e Mar do Norte; na posição de força sobre estas questões; e por último no abrir de opções para o Atlântico Sul, se bem que, pelo menos aqui, nos deparemos internamente diante estratégias díspares em face do tema marroquino e africano. Em termos genéricos, os sinais de que uma posição portuguesa sobre o Atlântico Sul havia sido clarificada em meados de Quatrocentos, percebe-se, objectivamente, com a inauguração da feitoria de Arguim. Esta posição é reforçada...

Ceuta, Arguim, o Mediterrâneo e o Mar do Norte

De Jorge Borges de Macedo lemos o seguinte: "A conquista e conservação de Ceuta foi acompanhada, muito de perto, pela expansão marítima portuguesa de que resultou a descoberta da viagem de ida e volta para a Madeira e a inclusão desta na vida europeia. O ter sido descoberta despovoada, ao contrário do que sucedia com as Canárias, mostra os limites da tecnologia naval europeia e o progresso que os portugueses lhe deram. O povoamento da ilha, assim como o tráfego de Arguim e a presença portuguesa em Ceuta levaram a que se constituísse uma área de influência europeia inteiramente nova e que, a pouco e pouco, acabou por permitir que se constituísse uma forma de apoio atlântico diferente da que se centrava no Mar do Norte, saturado de compromissos. (…) Esta orientação não deve levar-nos a supor D. João I desinteressado das relações com o Norte da Europa. Também nesse campo tem cabimento a sua política marroquina. O papel de Ceuta veio a ser reforçado pelo desenvolvimento da explora...

1434

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Os Esponsais (dos Arnolfini) (1434) Jan Van Eyck National Gallery, Londres.

O Cabo Bojador

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Casa Mar de Tarfaya Não havendo razão substancial para o entreposto britânico de Tarfaya ter sido fundado sobre os baixios do cabo homónimo, só uma lógica de perigosidade à navegação, que já os portugueses haviam experimentado nas primeiras décadas de 1400, justificaria tal iniciativa. Se bem também que eu não descure uma existência prévia à inglesa de uma outra construção menor, no mesmo local, e que por si só quase justificaria simpaticamente aquele investimento peculiar. Sobretudo, e antes de mais, o cabo que Gil Eanes passa em 1434 deverá ter sido, muito provavelmente, este cabo de Tarfaya, ou cabo Juby, e que a cartografia maiorquina, ou mesmo um personagem como Jéan IV de Béthencourt - a quem o Infante D. Henrique segue com particular atenção - assinalam como o de Buyeder ou Bugeder. Na carta-portulano de Meciá de Viladestes (1413) vemos este Buyeder. E sublinhamos uma linha de costa descendo para sul num (então ainda) significativo desconhecimento cartográfico. ...

Antes de Arguim, antes de Tânger: Ceuta

A partir do século XV, dois caminhos apresentavam-se a Portugal. "Um consistia em aproveitar a sua posição de vencedor e reforçar as resistências peninsulares a Castela, arriscando-se ao dolo das alianças constantemente negociadas e a guerras intermináveis. Um segundo era procurar outras posições de segurança no oceano Atlântico ou através dele. O caminho adoptado foi este último." As razões para Ceuta visavam portanto o "equilíbrio das forças internacionais (…) com vista a assegurar para Portugal uma maior área de intervenção para o equilíbrio peninsular ibérico" . Borges de Macedo, J. (2006). História Diplomática Portuguesa: Constantes e Linhas de Força . Tribuna da História, Lisboa.

Rotas caravaneiras transarianas

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Imagem original: NASA Súmula das rotas caravaneiras para o reino de Fez (Sidjilmassa e Marraquexe). Acessos à costa da malagueta e do ouro (Senegal, Gana, Axém, etc.). Vector maior de Tombouctou para o Cairo. Por último Arguim no contexto das rotas continentais.

Tânger e Arguim: um problema, duas soluções

Podemos conjecturar que o avançar das viagens para sul, e sobretudo a solução de Arguim, terá também tido a ver com a política fracassada de Tânger. Para explicar esta sugestão, enquadremos sucintamente o tema. Em causa está Marrocos e as seculares relações de Marrocos com a Península. Ainda que indirectamente a braços com a ocupação muçulmana, Portugal entende Marrocos, de facto, à luz daquela circunstância, e parte para o Atlântico focado na questão marroquina e num tema particular do ocupante magrebino: as rotas e caravanas do ouro africano. Porém, antes da partida para Marrocos, Portugal tem um conhecimento fragmentado da realidade magrebina e africana. Duas décadas depois está claro que para se chegar ao ouro africano não basta ter em mãos os entrepostos de acesso das rotas do ouro ao Mediterrâneo. Duas estratégias se colocam. Dominar as estruturas políticas do reino de Fez, ou dominar os mecanismos dos comércios africanos e da famosa rota do ouro do "Sudão". Tânger s...

"O complexo das ilhas e do Noroeste africano - séc XV"

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Godinho, V. (2007). A Expansão Quatrocentista Portuguesa . Dom Quixote, Lisboa.

"Precolonial trade routes"

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Connah, G (2002). African Civilizations: An Archaeological Perspective (second edition). Cambridge, UK

A Costa Ocidental Africana

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Imagem original: NASA Extraordinária perspectiva sobre a costa ocidental africana, a norte do equador, foco das viagens henriquinas (1418-1460). Bela imagem também sobre a natureza de alguns fenómenos atmosféricos à escala continental.

Cartografia de interesse português do séc XIV e XV

A listagem de Vitorino Magalhães Godinho (adaptada) 1. Carta pisana - sem data (final do séc. XIII) - Génova; 2. Mapa-do-mundo de Marino Sanuto; 3. Planisfério de Giovanni da Carignano - sem data (cerca de 1320); 4. Atlas de Pietro Vesconte - Génova - 1321; 5. Portulano de Angelino Dalorto - Génova - 1325; 6. Planisfério de Angelino Dulcert - Maiorca - 1339; 7. Atlas Mediceu ou Portulano Laurenziano - 1351, modificado cerca de 1400; 8. Mapa dos Pizzigani - Veneza - 1367 9. Atlas Catalão (dos Cresques) - 1375-7; 10. Atlas de Pinelli-Walknaer - Génova - 1384 11. Mapa de Guilherme Soleri - Maiorca - 1385; 12. Atlas de Nicolau Pasqualini - 1408; 13. Carta de Maciá de Viladestes - Maiorca - 1413; 14. Planisfério de Alberto de Virga - 1415; 15. Carta náutica de 1424 de Zuane Pizzigani (veneziano); 16. Portulano de Giacomo Giraldi - Veneza - 1426; 17. Planisfério de Battista Beccario - Génova - 1435; 18. Carta de Andrea Biancho - Veneza - 1436; 19. Carta de Gabriel de Val...